Como Lidar Com a Ansiedade no Exterior

A experiência de morar fora pode ser um sonho, mas o que fazer quando a ansiedade transforma a jornada em um pesadelo?

Mudar de país é uma experiência que, embora carregada de sonhos e promessas de um futuro melhor, pode se revelar um desafio emocional intenso para muitos brasileiros. O processo migratório desperta sentimentos profundos de ansiedade que vão muito além do nervosismo comum diante de uma nova fase da vida.

Ninguém esta imune a ansiedade

Eu estava exatamente a um ano em Perth, e eu mal me olhava no espelho, o reflexo não era agradável, eu tinha engordado 8kg a mais e olhos injetados pela insônia. A balança era a prova física: a ansiedade da migração, somada ao luto pela carreira deixada para trás e à infelicidade profissional, havia se tornado uma compulsão alimentar incontrolável. O paradoxo é que como psicóloga, todos esperavam que eu tivesse as respostas; o problema dos outros eu desvendava, mas no meu próprio universo emocional, eu estava tão perdida quanto qualquer pessoa, sentindo a mesma vergonha, insegurança e receio de buscar ajuda. Eu fiquei tão tomada pela rotina corrida de trabalhar em vários empregos ao mesmo tempo, junto com a pressão de renovação de visto que eu nem percebi que tinha algo de errado com as minhas emoções, mas aquele ganho de peso e o sono que fugia eram o alarme de que algo de errado não estava certo.

Relutante, entrei online para a primeira sessão. Olhei para o rosto da terapeuta, sentindo o nervosismo de um encontro às cegas com a minha própria dor. “Não sei bem por que estou aqui, só sei que estou sofrendo e não consigo parar de comer,” disparei, evitando a menção do meu diploma. A resposta dela foi uma pergunta, é claro, clássico de psicólogo:  “Vamos parar de lutar contra a comida e começar a ouvir. Que emoção você esta tentando engolir.” Naquele momento, eu só pensava, no quanto podemos ser afetados pelas nossas emoções e a ponto de não enxergar nada pela frente. Nem todo o meu conhecimento acumulado de anos, foi capaz de me observar e me fazer essa pergunta que parecia simples “Que emoção eu estou tentando evitar sentir para comer tanto?”. Logo entendi que o problema não era o que eu comia, mas o que eu me recusava a sentir.

Entendendo a Ansiedade

Exercícios Práticos para Lidar com a Ansiedade

 

Para entender melhor como a ansiedade se manifesta e como podemos gerenciá-la, vou contar a história de Sofia (Claro que esse nome é fictício). A História dela ilustra perfeitamente como a ansiedade pode se manifestar de forma incapacitante.
 
Sofia chega à sessão de terapia em um estado de ebulição constante, à beira de um ataque de pânico. “Sou muito sensível”, ela revela. “Eu sinto tudo. É como se eu absorvesse todas as coisas ao meu redor.” Seus pensamentos ansiosos permeiam cada elemento de sua vida. Ela vive com uma sensação constante de medo, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer. A imaginação longe quando se trata de pensamentos negativos, ela era incapaz de conseguir se acalmar.
Por que somos ansiosos?
É muito normal sentir ansiedade, em especial neste mundo incerto. Um pouco de ansiedade até ajuda, funcionando como nosso sistema de sobrevivência. No entanto, quando ela se torna crônica, nos consome e toma conta do nosso corpo. A ansiedade pode assumir muitas formas, como pensamentos ruminantes, preocupações com a saúde, medo do que os outros pensam, ou uma sensação geral de inquietação e pavor.
Independentemente de como ela se apresenta, é importante ouvi-la, pois ela está avisando que algo não anda bem. A ansiedade em si não é o problema; ela é um sinal de que há algo por trás. Em vez de tentar se livrar dela, precisamos compreender o que esse sentimento está tentando nos dizer.
 
 

A Raiz da Ansiedade: O Passado e o Controle

Muitas vezes, os pensamentos ansiosos (como o medo de que algo ruim vai acontecer) decorrem de experiências passadas. Nós projetamos no futuro as adversidades do passado para nos proteger. O medo de rejeição, por exemplo, geralmente vem de ter se sentido rejeitado antes. A raiz da ansiedade costuma ser o desamparo sentido anteriormente.
A ansiedade também pode ser uma tentativa de manter o controle. Quando nos preocupamos e ficamos obcecados com algo, nossa mente se sente um pouco mais no controle, o que nos alivia do terror de nos sentirmos inseguros. Uma das principais maneiras de aliviar a ansiedade é aceitar que há coisas que não podemos controlar.
 
 
 

Como Sofia Aprendeu a lidar com a Ansiedade

Com o passar dos meses, a transformação de Sofia se torna evidente.
A mudança de Sofia não foi mágica, mas sim um processo de aprendizado e autoconhecimento. Ela começou a desacelerar, a chegar na hora e a respeitar os limites ao mundo ao seu redor, ela nunca se sentiu tão calma como estava se sentindo após seus 3 meses de terapia.
 
A primeira coisa que ajudou Sofia foi mudar a relação dela com a própria ansiedade. Em vez de encará-la como uma aflição terrível da qual precisava se livrar, ela começou a prestar atenção nela, a ouvir o que a ansiedade tentava dizer.
 
Ressignificação: Sofia compreendeu que a ansiedade estava, na verdade, tentando protegê-la, em vez de tornar sua vida miserável.
 
Ela percebeu que a ansiedade era uma voz que ela criou para se sentir segura quando as coisas pareciam assustadoras, especialmente por ter crescido em um ambiente instável.
 
Segurança e Consistência: A terapia, sendo um mundo guiado por limites (chegar e sair na hora, sessão no mesmo horário, pagamento combinado), funcionou como uma base segura e confiável. Essa consistência ajudou Sofia a se sentir contida e amparada, permitindo que ela se abrisse e assumisse mais riscos emocionais.
 
Aprendizado de Limites: A terapia expôs as dificuldades de Sofia, que eram a raiz de sua ansiedade. Ao testar os limites na terapia, ela começou a aprender a estabelecer limites saudáveis para si mesma, o que a fez se sentir mais segura e no controle.
 
A ansiedade de Sofia diminuiu quando ela conseguiu aceitar que não podia mudar ou controlar o futuro, e quando aprendeu a se acalmar e a tolerar o desconforto. A terapia proporcionou o ambiente e as ferramentas para que ela encontrasse a razão de sua ansiedade, processasse o que estava por trás e, finalmente, desse a si o necessário para se sentir segura.
 
Se a sua ansiedade no exterior está afetando sua qualidade de vida, como afetou a minha e a de Sofia, vou te ensinar exercícios práticos que fiz para lidar com a minha ansiedade no exterior.
 

Exercícios Práticos para Lidar com a Ansiedade

A cura da ansiedade está em encontrar a razão, processar o que está por trás e, em seguida, dar a si o necessário para sentir-se seguro. A seguir, apresentamos um exercício de reflexão e ação para começar a mudar sua relação com a ansiedade:

 

— EXERCÍCIO —

Tente se lembrar da última vez que sentiu a ansiedade aumentar.

Seja Curioso

Ouça a sua ansiedade como um sinal de que há um sentimento bloqueado e investigue. Para fazer isso, é necessário encontrar uma forma de deixar o autojulgamento de lado. Em vez de combatê-la ou querer se livrar dela, tente ouvi-la com compaixão, como se uma criança tentasse lhe dizer o que está errado.

Compreenda

A ansiedade é um sinal de que há algo a mais querendo ser sentido. Em vez de nos punirmos quando nos sentirmos ansiosos, podemos encarar isso como uma pista útil de que há um sentimento por trás que precisamos aceitar e permitir.

Sinta

Tente definir o que pode estar por trás desses sentimentos.

O que pode tê-los desencadeado?

Existem outros sentimentos ou sensações se manifestando?

Quando se sentir ansioso, tente encontrar um lugar tranquilo onde possa fechar os olhos e se concentrar no próprio corpo. Analise-se da cabeça aos pés. Onde você sente a ansiedade?

Consegue se imaginar cavando mais fundo e vendo o que mais pode estar ali?

Existem espasmos de tristeza ou rompantes de raiva?

Será que é uma onda de empolgação ou medo?

É possível que você esteja sentindo várias dessas coisas de uma vez só, e talvez seja confuso sentir-se animado e assustado ao mesmo tempo, ou zangado e feliz. Mas é normal experienciar mais de um sentimento ao mesmo tempo. Em vez de julgar, apenas permita que tudo o que você pode sentir esteja presente.

Se a sua ansiedade no exterior está afetando sua qualidade de vida, como afetou a minha e a de Sofia, buscar apoio profissional é o passo mais corajoso e fundamental que você pode dar. Não é fácil enfrentar tudo sozinha e ter um terapeuta vai te guiar nessa jornada para você descobrir o que fazer para melhorar sua condição emocional. Se precisar de ajuda, clica no botão a baixo e fale comigo. Estou aqui para tornar sua vida menos difícil.

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